Resumo
A fibrose tecidual abdominal é uma complicação comum em pacientes submetidos a múltiplas cirurgias, resultando na formação de aderências que comprometem a mobilidade visceral, aumentam o risco de obstruções intestinais e dificultam intervenções cirúrgicas subsequentes. Tradicionalmente, a lise de aderências tem sido o principal método terapêutico, embora limitada por altos índices de recorrência e complicações intraoperatórias. Diante disso, emergem novas estratégias terapêuticas voltadas à reversão ou controle da fibrose, ampliando as possibilidades além do tratamento mecânico convencional. Este estudo teve como objetivo analisar as abordagens inovadoras para o manejo da fibrose tecidual abdominal em pacientes com histórico de múltiplas cirurgias, com foco na eficácia, segurança e potencial regenerativo dessas terapias. Trata-se de uma revisão bibliográfica com abordagem qualitativa e caráter exploratório, cujo objetivo é compreender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na formação de aderências e fibroses abdominais, bem como suas implicações clínicas e estratégias terapêuticas incluindo intervenções cirúrgicas, manipulação miofascial e drenagem linfática. A seleção dos estudos foi realizada por meio das bases de dados PubMed, SciELO, ScienceDirect e Scopus, com a escolha de artigos completos, publicados em revistas revisadas por pares e com relevância para as áreas de cirurgia plástica, anatomia, fisiologia, terapia manual e regeneração tecidual. Os resultados apontam para estratégias emergentes promissoras, como o uso de agentes moduladores da matriz extracelular (ácido hialurônico, mitomicina C e pirfenidona), aplicação de terapias celulares (como células-tronco mesenquimais com ação antifibrótica) e técnicas físicas complementares, como a liberação miofascial guiada por imagem. Também ganham destaque abordagens preventivas, como o uso de barreiras biocompatíveis reabsorvíveis durante a cirurgia, que reduzem a formação de novas aderências. O desenvolvimento de terapias personalizadas com base em biomarcadores inflamatórios e genéticos vem sendo explorado como forma de predizer o risco de fibrose recorrente e ajustar intervenções de forma individualizada. Conclui-se que a reversão da fibrose tecidual abdominal caminha para além da lise de aderências, incorporando terapias inovadoras que visam o controle do microambiente inflamatório e a modulação da cicatrização. A integração entre biotecnologia, medicina regenerativa e cirurgia minimamente invasiva representa uma perspectiva promissora no cuidado de pacientes com fibrose complexa, exigindo, no entanto, mais estudos clínicos controlados para validação ampla dessas abordagens.
Referências
Parker M. C., Ellis H., Moran B. J., et al. (2001). Postoperative adhesions: ten-year follow-up of 12,584 patients undergoing lower abdominal surgery. Diseases of the Colon & Rectum, 44(6), 822–829.
DiZerega G. S. (2000). Contemporary adhesion prevention. Fertility and Sterility, 73(1), 1–10.
Stecco C., Gagey O., Macchi V., et al. (2014). The fascia: the forgotten structure. Italian Journal of Anatomy and Embryology, 119(1), 127–138.
Liu Y., Wang Y., Yang Y., et al. (2019). Mesenchymal stem cells in fibrotic diseases: Pathophysiology and therapeutic strategies. Stem Cell Research & Therapy, 10(1), 1-13.
Tufo T., Branco C., Corgosinho F., et al. (2021). Effects of fascial manipulation on adhesions and scar tissue: a scoping review. Journal of Bodywork and Movement Therapies, 26, 20–27.
Wynn, T. A. (2008). Cellular and molecular mechanisms of fibrosis. The Journal of Pathology, 214(2), 199–210.
Kolachala, V. L., Bajaj, R., Wang, L., et al. (2021). Anti-fibrotic therapies in abdominal fibrosis: Mechanisms and translational considerations. Fibrogenesis & Tissue Repair, 14(1), 5.
ten Broek, R. P. G., Strik, C., van Goor, H. (2013). Preoperative nomogram to predict risk of bowel injury during adhesiolysis. British Journal of Surgery, 100(5), 665–673.
Masson IFB, Oliveira BDA, Machado AFP, Farcic TS, Esteves Júnior I, Baldan CS. Manual lymphatic drainage and therapeutic ultrasound in liposuction and lipoabdominoplasty post-operative period. Indian J Plast Surg. 2014 Jan/Apr;47(1):70-6.
Gemperli R, Mendes RRS. Complicações em abdominoplastia. Rev Bras Cir Plást. 2019;34(2):53-6.
Ardehali B. A meta-analysis of the effects of abdominoplastymodifications on the incidence of postoperative seroma. Aesthet Surg J. 2017 Oct;37(10):1144-45.